Um
dos assuntos inevitáveis entre adolescentes e educadores é o sexo. Os
educadores se preocupam que seus jovens não façam besteira, leia-se gravidez
precoce e DST´s. Os pais, bem, a maioria dos pais contemporâneos (não estou
generalizando, pode ser que não seja o seu caso) realmente não compreende o
impacto das atitudes dos filhos, mas acaba estimulando que eles façam aquilo
que é prazeroso, como eles – os pais – gostariam de ter feito ou de ter feito
mais se tivessem oportunidade. Longe de mim criticar os pais, pois é minha
obrigação respeitar suas decisões. Mas posso questioná-las (as decisões) para o
bem deles mesmos e de seus pupilos, já que eu mesma atuo na área humana. Vamos
analisar o conceito de sexo que se tem atualmente. Sexo é prazeroso, todos
temos direito (está na constituição) e podemos
expressar sexualmente nossos desejos sendo vetada qualquer discriminação
(isso também está na lei). Antes que alguém balance a cabeça positivamente
alargando o sorriso, vamos analisar uma questão fundamental. Se queremos
orientar e educar jovens para que se tornem adultos sexualmente saudáveis, precisamos levar em
conta que, primeiro, uma pessoa não é feita em “blocos”, ou seja, o bloco do
sentimento, o bloco do corpo, o bloco da alma e o bloco do sexo. Não é assim.
Somos um ser inteiro, não há como separar as coisas. Posso sentir o eco de
alguém aí me contradizendo, pensando “eu sei separar sexo de sentimentos”. Se
for o seu caso, é porque já andou se “desfragmentando” e não me surpreenderia se
me contasse que há uma profunda sensação de vazio em sua vida, apesar de toda a
alegria, da balada e dos amigos. Isso acontece sempre que não levamos em conta
a nossa integridade e vivemos separando sexo, sentimentos, saúde, bem-estar
emocional etc.
Acredito
que uma boa orientação sexual é fundamental para a saúde física e emocional de
jovens e adultos. Não acho que caiba proibir, mas orientar com seriedade, sim.
Sexo é expressão de intimidade, não um meio para consegui-la
Se
conversamos com pessoas comuns (todos os que não são personagens de novelas e
filmes) inclusive os jovens, veremos que, na maioria, há expectativas de viver
um relacionamento duradouro. Também há uma expectativa que vai ao extremo e é
tão perigosa quanto ingênua, de querer “primeiro ter várias experiências
sexuais, só depois de um tempo construir um relacionamento monogâmico e
duradouro”. Nos dois casos é necessário entender que o ser humano, antes de
mais nada, precisa se relacionar, é da natureza humana. O relacionamento
envolve troca em vários níveis, e dependendo do tipo de relacionamento, essa
troca é intensa e permanente e pode ser expressada pelo sexo. Há duas possibilidades
básicas para isso: ou você deseja aprofundar o relacionamento através de um
compromisso vitalício, ou deseja satisfação pessoal. Eu disse pessoal, não
satisfação mútua. Por exemplo, temos dois amigos que realizam várias trocas
entre si, possuem muitas afinidades e se sentem á vontade um com o outro. Em
algum momento, um deles ou ambos, pode desejar elevar o nível do relacionamento
e a união sexual será cogitada. Se forem ambos, este relacionamento terá muitas
chances de ser promovido a casamento, e esse casal desfrutará de cumplicidade,
alegria, liberdade mútua e amadurecimento, além de se sentirem á vontade um com
o outro sendo casados, independente dos conceitos sociais atuais que são
contrários ao casamento. No segundo caso, só um deles deseja mudar de nível, há
uma chance de afastamento, pois se um quer e outro não, é sinal que houve um
ruído de comunicação, é preciso organizar sentimentos e o relacionamento com
esse amigo. Mas também há uma grande chance de investidas sexuais, tentativas
de seduzir o outro para tornar o amigo um amante, e isso não é sinal de querer
construir algo sólido, mas de obter satisfação pessoal, seja por curiosidade,
seja por desejo, mas de qualquer forma, é um desejo unilateral – traduzindo – um
desejo de satisfação ãmm...egoísta.
Porque adolescentes deveriam permanecer virgens até se casar
Escândalo!
Adolescência não é o momento de descobertas sexuais. Adolescentes devem ser
estimulados a muitas coisas -esportes,
estudos, viagens, amizades, falar outra língua, entre milhares de outras cosias
– menos a praticar sexo. Mais escândalo! Agora precisarei escrever escondida,
pois pode ser que alguém queira me prender ou me agredir. No mínimo rirão pelas
minhas costas ou tentarão – muitos – dizer “hellooou, estamos no século 21!”.
Sei disso, tenho um calendário. E também já fui adolescente. Por isso, o que
vou defender é baseado em minha experiência como educadora e na minha visão pessoal.
Primeiro,
quem tem o poder de instigar os adolescentes á prática do sexo precoce são os
adultos. Isso dificilmente parte deles, não da maioria. E mesmo que fosse o
caso, ainda assim, somos adultos e devemos orientá-los corretamente, mesmo que
pareça não haver sentido, mesmo que haja receio de eu tomem decisões precipitadas.
E a partir do momento em que concordamos irrefletidamente com conceitos sociais
distorcidos sobre sexo na adolescência, estamos,
infelizmente, sugerindo que pratiquem o sexo também irrefletidamente. O fato se
sentir desejos, não quer dizer que seja sábio nem sensato atender a eles
prontamente. Essas palavras soam difíceis aos ouvidos, porque no fundo, quem é
que não quer ter o amparo da lei e da família para dar vasão a desejos de todo
tipo? Mas se estamos analisando o assunto, é porque valorizamos o pensar antes
de agir, é porque valorizamos, acima de tudo, a boa herança que estamos
transmitindo aos jovens e, porque não dizer, lançando um novo olhar sobre nosso
próprio jeito de enxergar a realidade.
Qual o problema da sociedade atual que acha que sexo é
sinônimo de pornografia?
Antes,
quero ratificar que sair proibindo os jovens de praticar sexo não é uma boa
maneira de educa-los, até porque foi a proibição – e não o esclarecimento – que
gerou o caos sobre a sexualidade que presenciamos diariamente.
Mas vamos
concordar que, em algum momento, pais, educadores e adultos em geral,
escolheram entregar aos próprios jovens a responsabilidade por sua direção
sexual. Orientá-los, ajudá-los e acompanhá-los no amadurecimento que a
juventude exige, não só em relação ao sexo, foi uma tarefa delegada a eles
mesmos por razões que não vou discutir aqui, mas uma das consequências dessa
atitude foi a criação de um conceito de que o ser humano é dividido em blocos. O
bloco dos sentimentos, o bloco das emoções, o bloco amoroso e familiar e o
bloco dos desejos sexuais, só para citar alguns. Segundo esse conceito, é
possível fazer sexo sem envolvimentos emocionais, por exemplo, ou mentir para o
melhor amigo se uma situação for muito crítica, mas não se sentir envergonhado
por isso. Teoricamente é assim e na prática as pessoas fazem isso, mas não se
sustenta. Após mais de dois anos trabalhando com jovens, pude acompanhar vários
casos de mudanças de comportamento devido a práticas sexuais precoces e todas
com fortes impactos tanto emocionais quanto sociais e econômicos nesses jovens.
Vamos combinar uma coisa? O ser humano é e sempre foi inteiro. Nunca existiu e
nunca existirá em “blocos”. E a lei fala muito em direitos sexuais sem incluir
os direitos emocionais, os direitos de ser tratado com dignidade, o dever de
fazer o mesmo, é tudo escrito também em blocos mas em defesa da integridade. Não
é, no mínimo, uma ironia?
Orientações saudáveis = jovens
saudáveis + adultos em paz
Muitos
adultos, eles mesmos, precisam de orientação para si mesmo ANTES de sair
orientando, o que não isenta a nenhum de nós da responsabilidade sobre os
jovens. Também não nos coloca em posição de decidir por eles, que isso seja bem
colocado, um jovem tem direito de tomar decisões conforme o processo de
amadurecimento, sejamos cuidadosos porém em observar que, enquanto menores de
idade, as consequências da maioria de suas decisões recairá sobre nós, sejamos cientes
ou não, queiramos ou não.
Em
tempo de tornar a televisão e o cinema as novas babás, precisamos repensar as
atividades e os passatempos que oferecemos. Mesmo debaixo de pressões, da
necessidade financeira dos casais e tudo o mais, educar continua sendo a tarefa
mais importante da carreira de um homem (isso mesmo, não é miragem, está
escrito HO-MEM, eles também fazem parte das famílias e do corpo docente) e de
uma mulher. Cada casal, cada escola, cada instituição que cuida de jovens em
qualquer área, precisa reavaliar desde sua forma de pensar sobre a vida não
somente o sexo, e aquilo que seria importante para o aprendizado de todo jovem,
como uma gama de princípios por exemplo. Essa é, a meu ver, a maneira (difícil)
e correta de gerar mudanças, mas que funciona, se quisermos realmente uma
geração melhor que a nossa. Certamente vai significar também mudança de
paradigmas e reconhecer que vários dos aprendizados que tivemos, precisarão ser
revistos. E aí, quem se habilita?