terça-feira, 27 de novembro de 2012

Intimidade, adolescência e sexualidade saudável: não necessariamente nesta ordem.




Um dos assuntos inevitáveis entre adolescentes e educadores é o sexo. Os educadores se preocupam que seus jovens não façam besteira, leia-se gravidez precoce e DST´s. Os pais, bem, a maioria dos pais contemporâneos (não estou generalizando, pode ser que não seja o seu caso) realmente não compreende o impacto das atitudes dos filhos, mas acaba estimulando que eles façam aquilo que é prazeroso, como eles – os pais – gostariam de ter feito ou de ter feito mais se tivessem oportunidade. Longe de mim criticar os pais, pois é minha obrigação respeitar suas decisões. Mas posso questioná-las (as decisões) para o bem deles mesmos e de seus pupilos, já que eu mesma atuo na área humana. Vamos analisar o conceito de sexo que se tem atualmente. Sexo é prazeroso, todos temos direito (está na constituição) e podemos  expressar sexualmente nossos desejos sendo vetada qualquer discriminação (isso também está na lei). Antes que alguém balance a cabeça positivamente alargando o sorriso, vamos analisar uma questão fundamental. Se queremos orientar e educar jovens para que se tornem adultos  sexualmente saudáveis, precisamos levar em conta que, primeiro, uma pessoa não é feita em “blocos”, ou seja, o bloco do sentimento, o bloco do corpo, o bloco da alma e o bloco do sexo. Não é assim. Somos um ser inteiro, não há como separar as coisas. Posso sentir o eco de alguém aí me contradizendo, pensando “eu sei separar sexo de sentimentos”. Se for o seu caso, é porque já andou se “desfragmentando” e não me surpreenderia se me contasse que há uma profunda sensação de vazio em sua vida, apesar de toda a alegria, da balada e dos amigos. Isso acontece sempre que não levamos em conta a nossa integridade e vivemos separando sexo, sentimentos, saúde, bem-estar emocional etc.
Acredito que uma boa orientação sexual é fundamental para a saúde física e emocional de jovens e adultos. Não acho que caiba proibir, mas orientar com seriedade, sim.

Sexo é expressão de intimidade, não um meio para consegui-la

Se conversamos com pessoas comuns (todos os que não são personagens de novelas e filmes) inclusive os jovens, veremos que, na maioria, há expectativas de viver um relacionamento duradouro. Também há uma expectativa que vai ao extremo e é tão perigosa quanto ingênua, de querer “primeiro ter várias experiências sexuais, só depois de um tempo construir um relacionamento monogâmico e duradouro”. Nos dois casos é necessário entender que o ser humano, antes de mais nada, precisa se relacionar, é da natureza humana. O relacionamento envolve troca em vários níveis, e dependendo do tipo de relacionamento, essa troca é intensa e permanente e pode ser expressada pelo sexo. Há duas possibilidades básicas para isso: ou você deseja aprofundar o relacionamento através de um compromisso vitalício, ou deseja satisfação pessoal. Eu disse pessoal, não satisfação mútua. Por exemplo, temos dois amigos que realizam várias trocas entre si, possuem muitas afinidades e se sentem á vontade um com o outro. Em algum momento, um deles ou ambos, pode desejar elevar o nível do relacionamento e a união sexual será cogitada. Se forem ambos, este relacionamento terá muitas chances de ser promovido a casamento, e esse casal desfrutará de cumplicidade, alegria, liberdade mútua e amadurecimento, além de se sentirem á vontade um com o outro sendo casados, independente dos conceitos sociais atuais que são contrários ao casamento. No segundo caso, só um deles deseja mudar de nível, há uma chance de afastamento, pois se um quer e outro não, é sinal que houve um ruído de comunicação, é preciso organizar sentimentos e o relacionamento com esse amigo. Mas também há uma grande chance de investidas sexuais, tentativas de seduzir o outro para tornar o amigo um amante, e isso não é sinal de querer construir algo sólido, mas de obter satisfação pessoal, seja por curiosidade, seja por desejo, mas de qualquer forma, é um desejo unilateral – traduzindo – um desejo de satisfação ãmm...egoísta.

Porque adolescentes deveriam permanecer virgens até se casar
Escândalo! Adolescência não é o momento de descobertas sexuais. Adolescentes devem ser estimulados a muitas coisas  -esportes, estudos, viagens, amizades, falar outra língua, entre milhares de outras cosias – menos a praticar sexo. Mais escândalo! Agora precisarei escrever escondida, pois pode ser que alguém queira me prender ou me agredir. No mínimo rirão pelas minhas costas ou tentarão – muitos – dizer “hellooou, estamos no século 21!”. Sei disso, tenho um calendário. E também já fui adolescente. Por isso, o que vou defender é baseado em minha experiência como educadora e na minha visão pessoal.
Primeiro, quem tem o poder de instigar os adolescentes á prática do sexo precoce são os adultos. Isso dificilmente parte deles, não da maioria. E mesmo que fosse o caso, ainda assim, somos adultos e devemos orientá-los corretamente, mesmo que pareça não haver sentido, mesmo que haja receio de eu tomem decisões precipitadas. E a partir do momento em que concordamos irrefletidamente com conceitos sociais distorcidos sobre sexo na adolescência,  estamos, infelizmente, sugerindo que pratiquem o sexo também irrefletidamente. O fato se sentir desejos, não quer dizer que seja sábio nem sensato atender a eles prontamente. Essas palavras soam difíceis aos ouvidos, porque no fundo, quem é que não quer ter o amparo da lei e da família para dar vasão a desejos de todo tipo? Mas se estamos analisando o assunto, é porque valorizamos o pensar antes de agir, é porque valorizamos, acima de tudo, a boa herança que estamos transmitindo aos jovens e, porque não dizer, lançando um novo olhar sobre nosso próprio jeito de enxergar a realidade.

Qual o problema da sociedade atual que acha que sexo é sinônimo de pornografia?

Antes, quero ratificar que sair proibindo os jovens de praticar sexo não é uma boa maneira de educa-los, até porque foi a proibição – e não o esclarecimento – que gerou o caos sobre a sexualidade que presenciamos diariamente.
Mas vamos concordar que, em algum momento, pais, educadores e adultos em geral, escolheram entregar aos próprios jovens a responsabilidade por sua direção sexual. Orientá-los, ajudá-los e acompanhá-los no amadurecimento que a juventude exige, não só em relação ao sexo, foi uma tarefa delegada a eles mesmos por razões que não vou discutir aqui, mas uma das consequências dessa atitude foi a criação de um conceito de que o ser humano é dividido em blocos. O bloco dos sentimentos, o bloco das emoções, o bloco amoroso e familiar e o bloco dos desejos sexuais, só para citar alguns. Segundo esse conceito, é possível fazer sexo sem envolvimentos emocionais, por exemplo, ou mentir para o melhor amigo se uma situação for muito crítica, mas não se sentir envergonhado por isso. Teoricamente é assim e na prática as pessoas fazem isso, mas não se sustenta. Após mais de dois anos trabalhando com jovens, pude acompanhar vários casos de mudanças de comportamento devido a práticas sexuais precoces e todas com fortes impactos tanto emocionais quanto sociais e econômicos nesses jovens. Vamos combinar uma coisa? O ser humano é e sempre foi inteiro. Nunca existiu e nunca existirá em “blocos”. E a lei fala muito em direitos sexuais sem incluir os direitos emocionais, os direitos de ser tratado com dignidade, o dever de fazer o mesmo, é tudo escrito também em blocos mas em defesa da integridade. Não é, no mínimo, uma ironia?


Orientações saudáveis =  jovens saudáveis + adultos em paz

Muitos adultos, eles mesmos, precisam de orientação para si mesmo ANTES de sair orientando, o que não isenta a nenhum de nós da responsabilidade sobre os jovens. Também não nos coloca em posição de decidir por eles, que isso seja bem colocado, um jovem tem direito de tomar decisões conforme o processo de amadurecimento, sejamos cuidadosos porém em observar que, enquanto menores de idade, as consequências da maioria de suas decisões recairá sobre nós, sejamos cientes ou não, queiramos ou não.
Em tempo de tornar a televisão e o cinema as novas babás, precisamos repensar as atividades e os passatempos que oferecemos. Mesmo debaixo de pressões, da necessidade financeira dos casais e tudo o mais, educar continua sendo a tarefa mais importante da carreira de um homem (isso mesmo, não é miragem, está escrito HO-MEM, eles também fazem parte das famílias e do corpo docente) e de uma mulher. Cada casal, cada escola, cada instituição que cuida de jovens em qualquer área, precisa reavaliar desde sua forma de pensar sobre a vida não somente o sexo, e aquilo que seria importante para o aprendizado de todo jovem, como uma gama de princípios por exemplo. Essa é, a meu ver, a maneira (difícil) e correta de gerar mudanças, mas que funciona, se quisermos realmente uma geração melhor que a nossa. Certamente vai significar também mudança de paradigmas e reconhecer que vários dos aprendizados que tivemos, precisarão ser revistos. E aí, quem se habilita?