Recomeçar pode ser mais difícil que
começar, não só pelo esforço que demanda mas porque temos que lidar com a ideia
de ter fracassado. Há lembranças difíceis a superar, maiores expectativas, autoestima
abalada, idade e um grau de escolaridade que nem sempre acompanhou o passar dos
anos. Ou seja, cá entre nós, a maioria de nós recomeça do fundo do poço, alguns bem do fundão mesmo.
Me lembro da cantora Tina Turner nos anos oitenta sendo anunciada na TV
brasileira pelo “Fantástico” enquanto a sombra de sua silhueta se movia calmamente
até sua voz espetacular dar o verdadeiro recado: ela estava recomeçando. Após um
casamento perturbado e violento, ela deu
a volta por cima e não caiu mais, ao contrário, a partir dali fez seus melhores
trabalhos. Provavelmente a Tina Turner tinha problemas semelhantes aos de quem
recomeça: muitas contas para pagar e pouco dinheiro, amor próprio em baixa e a
conclusão de ter trilhado o caminho errado, fosse por erro próprio ou não. Mas
uma coisa foi fundamental para o recomeço dela e serve para todos nós –
acreditar no próprio potencial. E é por isso que antes de encararmos tantos
desafios precisaremos analisar os fatos,
refletir sobre nossa resposta ás situações de trabalho e planejar o recomeço,
para que tudo o que hoje é uma
desvantagem, se torne vantagem para vencer com diferencial.
Analisar os fatos: o que nos fez
fracassar?
Eu gosto de uma frase na Bíblia
que diz que devemos ser “puros como pombas e prudentes como serpentes” (
Mateus, 10:6) é algo valioso que tem me ensinado muito. Mas o que isso quer dizer
afinal e como usar este conhecimento no mundo do trabalho?
No começo deste post comentei
sobre minha experiência de trabalho e as reflexões que vieram depois de algumas
– várias – derrotas. Pois bem, digo
seguramente que se eu soubesse usar o princípio acima teria mais vitórias e
menos reflexões a fazer porque não seria necessário. Na prática, ser puro é
diferente de ser ingênuo, e ser prudente (ou astuto) não é o mesmo que tirar vantagem dos
outros, ou desconfiar de todo mundo como
se houvesse uma conspiração contra você. No primeiro caso, ser puro é praticar princípios,
aquelas condutas que você aprendeu a admirar e que são como uma bússola em sua
vida. Falar a verdade, tratar bem aos mais velhos, jamais usar violência,
dividir o lanche com quem não tem o que comer, a lista é enorme, basicamente é
a nossa noção de certo e errado, de bem e mal. Basicamente quer dizer se tornar
“irrepreensível”, digno de confiança, inclui fazer o seu melhor, dar um voto de
confiança e perdoar as pessoas, desse jeito você faz um belo exercício de
humanidade, agindo com os outros como gostaria que agissem com você etc e tal.
Até aí estamos bem?
Fazendo reflexões necessárias...
Suponho que neste momento salte á
mente a questão inevitável: nem todo mundo tem princípios, e tem os que fazem a
gente de bobo se formos tão “puros” assim. Se você leitor pensou isso, ótimo,
pois agora entra a questão “ser prudente (ou astuto) como uma serpente”.
Dificilmente aprendemos isso na juventude, portanto se você se identificou com
essa questão considere uma oportunidade valiosa, pois sem entender isso
passamos de “puros” a “ingênuos” (no sentido pejorativo), o que em todo caso é
bem ruim. Tive o capricho de consultar o dicionário para entender a o que é ser
“ingênuo”. Um dos significados é “aquele que está desorientado”. Por questões de cultura somos incentivados
tanto a aceitar ideias e ordens do jeito que chegam, sem questionar, como a tomar
atitudes de esperteza como sinal de sagacidade e inteligência. Por essa razão é difícil achar um equilíbrio:
ser irrepreensíveis e ao mesmo tempo perspicazes contra ações mal intencionadas
ou equivocadas. Na realidade ou já vitimamos ou já fomos vítima de atitudes
imprudentes, a diferença é quando agimos com maturidade mudando a forma de
pensar e como consequência criando novas regras para o jogo.
A ideia de “ser prudente como
serpente”, é particularmente minha preferida. Quantos problemas evitados com
esta simples sabedoria! No post de abril falei sobre a complexidade humana no
sentido de que ninguém é totalmente bom ou totalmente mau, porque se fosse, meu conselho para você seria
que evite gente ruim e se aproxime só dos bons, mas não funciona assim. No dia
a dia as pessoas mais confiáveis também mentem e são maldosas; e até os brutos mal
humorados são capazes de atitudes amorosas e fofas. A mudança começa quando
deixamos preconceitos de lado e observamos a nós e aos outros como seres
humanos, porque somos parecidos. Basicamente ser prudente é ser mais observador
e menos romântico do que de costume, o ser humano anseia por aceitação e é
comum perder o foco por alguns aplausos e olhares de “parabéns”, e é justamente
isso que precisa acabar se quisermos mudar o jogo. Sim, faça amigos, troque
elogios e construa relacionamentos – só não se desvie de seus objetivos, aliás
é outra coisa para conversar num outro post..
Recomeçar pede foco. Veja o filme
da sua carreira e identifique onde acha que errou e quando entrou em
desvantagem, pode haver falhas pessoais e também externas para identificar,
como um momento econômico difícil no país, na empresa, um problema de saúde etc.
Se tiver um amigo de confiança, pergunte o que acha das suas habilidades e onde
considera que pode melhorá-las, depois analise no seu ponto de vista e
considere o que podia ter feito melhor. Muita coisa podemos mudar, mas não
todas, se concentre naquilo que depende só de você.
No próximo post vamos falar sobre
o terceiro item que é planejar a reestreia, até lá foco, força e fé! O primeiro tempo
pode não ter sido dos melhores, mas o jogo ainda não acabou!